Coincidência ou não, mas anteriormente à publicação da postagem do Érick (ontem), eu estive pensando em escrever sobre o sentido de se estudar história..
Antes de entrar no tema em questão acho que seria interessante se eu fizesse um apanhado breve da minha trajetória no curso.
Lembro de quando eu fazia o ensino médio lá em Araxá e já desejava fazer o curso. A inspiração vinha de uma professora com posicionamento político à esquerda que me refletir sobre algumas questões que até então eu não enxergava muito claramente. A partir daí, por iniciativa própria, tomei meu primeiro contato com Marx.
Àquele momento eu pude ter uma noção maior da dimensão de questões sociais, econômicas e políticas, mesmo que de forma simplificada. Cheguei a participar de alguns movimentos estudantis – o que me fez chegar já descrente deles à universidade.
Contudo, eu ainda acreditava na possibilidade de se fazer alguma coisa pelas pessoas. E a carreira de professor, e, ainda mais, sendo professor de história me parecia ser um caminho para fazer alguma coisa.
Entrei na universidade. Sai da minha cidade. Vim sem o aval de quase ninguém. Algumas pessoas me diziam coisas como: “Mas você é tão inteligente! Por que é que vai fazer história?”.
Dificuldades passadas – que talvez venha a contar em algum blog em outro momento. Momentos complicados, momentos importantes, mas todos valorosos para a minha formação acadêmica.
Enfim, o que eu queria destacar é que em boa parte do curso eu me perguntava o “porquê” de se estudar história? Para que me dedicava àquilo?
Algumas coisas me deixavam perdido. Os professores com posicionamentos diversos. Para uns a erudição parecia ser tudo. Para outros, a “reprodução” parecia ser tudo. E a outros, não conseguia enxergar qualquer sensibilidade a respeito da vida das pessoas...
Cheguei a querer me imergir na erudição. Cheguei a repudiá-la em outro momento...
Mas, estudando, é que encontrei algumas respostas. Melhor dizendo, como não poderia deixar de ser, buscando respostas, é que as encontrei.
E este é um ponto que considero importante para registrar aqui o que é minha concepção de história. Para mim prática e estudo são indissociáveis.
E o sentido da prática deveria minimante abranger ao que coloco aqui : um historiador, jornalista ou estudioso das humanidades – pegando emprestada posição semelhante do professor Eric Hobsbawm – deve se lançar a questões que são relevantes para os problemas de seu tempo.
Isso não implica dizer que a história de tempos mais remotos não seja algo importante de ser estudado, como alguns poderiam pressupor. Porém, a meu ver, para qualquer estudo com o qual nos propusermos a abordar, é necessário que levemos em consideração se aquilo tem alguma relevância para os problemas da vida social.
Do contrário isso é mera erudição. E que me desculpem os eruditos adeptos do conhecimento-vazio-construído-em-torres-de-marfim-do-saber-oficial, mas não acho que o propósito da história é estudarmos temas “fascinantes” como: a milionéssima nona análise das obras do Molière; a arquitetura das pirâmides do antigo Egito; ou a análise sistemática da estruturação discursiva das obras neo-freudianas da abstração moral (se é que esse último existe, apesar que não duvido muito...).
E, além disso, quando falo em ser historiador, também falo em ser professor. E ser professor no nosso país, significa trabalharmos com crianças e adolescentes que têm problemas REAIS! E se não nos preocupamos com isso. Se não nos preocupamos com a vida dessas pessoas. Se não queremos um mundo melhor. Se achamos que nada podemos fazer e que tudo é como é porque é natural, melhor seria nos abstermos de tudo. Largar a universidade. Pedir que cassem todos os cursos não só de história, mas de todas licenciaturas oferecidas pelas instituições deste país!
Obviamente, tenho em mente todas dificuldades que ocorrem no cotidiano das escolas públicas. Problemas que o governo tem responsabilidade. Mas que nós também temos. E quando falo em nós, falo desse NÓS, falo de professores e estudantes de licenciaturas.
Estudantes que ficam preocupados com seu ridículo mundinho universitário e muitas vezes desconexo com a vida das pessoas de fora de suas instituições e – desculpe dizer para aqueles que ainda não se aperceberam – são a maioria das pessoas. Professores, que reclamam da situação profissional e nada fazem de concreto para mudar alguma coisa. (Ou não seria uma verdade que as raras manifestações geralmente só ocorrem motivadas por questões salariais? O que é importantíssimo obviamente. Mas será que não é preciso nos manifestarmos a favor do ensino público de qualidade e mais digno?).
A meu ver o que nós, estudantes e historiadores, deveríamos recuperar seria o “espírito” da crítica construtiva, e ressalto, para questões do nosso tempo. Tal como fizeram, mesmo com seus erros e posições questionáveis – somente assim que acertamos em alguma coisa, não é mesmo? – autores (nem todos historiadores) como Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré, Paulo Prado, Sérgio Buarque de Hollanda, Déa Fenelon, Eder Sader, Paulo Freire e tantos outros...
2 Comentários:
minha mãe me perturba pra uma facul, ja fiz curso tecnico de saude trabalhei num HOSP e amarguei de arrepedimento agora to na vida de webmaster mas meu objetivo é a musica!!
Diego.
Estive "fora do ar" por um tempinho. Por isso, não tenho comparecido por aqui, nem no Soluço.
Como seria bom, se a maioria dos estudantes brasileiros tivessem a mesma consciência social, política e cultural que vc tem. É sério! Amplio também, citando os seus colegas do Lado B.
Continuem assim. Vale a pena!
Um abração!
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