domingo, 17 de maio de 2009

Huxley novamente e a Imprensa mais uma vez

. domingo, 17 de maio de 2009

Por: Érick Delemon

 

Revista Época nº573 de 11 de Maio de 2009, a R$ 8,40. Após ler a reportagem de capa vi que o nosso futuro, muito sombrio é – como diria o mestre Yoda. Um review rápido: de início a reportagem não trazia nada de muito novo, um relato de usuário de um remédio atual que mesmo não tendo nenhum problema mental, utiliza a droga de tarja preta para conseguir maior concentração, agilidade e assim: ação. O uso de substâncias para “turbinar o cérebro” – como diz a revista não é novo, e eles mesmo reconheceram isso num quadro de “Drogas dos gênios”, remontando o uso de algumas drogas que Freud, Bacon e outros usaram. Ok, até aí achei que a reportagem não traria nada de novo.

 

capa_revista 

O quadro continha um “erro” a meu ver: continha uma foto de Aldous Huxley e a seguinte legenda:

o escritor inglês, autor de Admirável Mundo Novo, indicou as substâncias alucinógenas para expandir os limites da mente no livro As Portas da Percepção. Inspirou Jim Morrison, do grupo The Doors”.

À exceção da palavra “indicou”, todas as informações estão presentes no meu primeiro post aqui no Lado B de um Disco Trash. Aliás, quando li As Portas, imaginei que um leitor desatento poderia ter, de fato, essa interpretação de Huxley:

Não é portanto o que hoje se entenderia por "crítico de drogas". Ao contrário, Huxley dá sua versão, e ponto final. O que pode ser perigoso num momento em que o clima de renegação das drogas é tão presente.

Não sendo de todo mal a interpretação de indicação, continuo a afirmar que o britânico é tão logo um relator, e jamais um prescritor de receitas como deixa entender a legenda. E afirmo isso especialmente após ler Regresso ao Admirável Mundo novo, (que eu terminava de ler exatamente quando a revista chegou às minhas mãos) de 1959: mais que uma análise dos elementos da ditadura pacífica em sua ficção de 1932, é também, nas palavras de Olavo de Carvalho[1]:

uma atemorizante coletânea de ensaios sobre lavagem cerebral, persuasão química, hipnopédia, influência subliminar e outras técnicas de manipulação comportamental que, previstas para o século VII d.D>, já estavam prontas para o uso na segunda metade do Século XX.”

Regresso

 

O que Huxley fez em 1954, com As Portas da Percepção, o próprio autor da reportagem de capa também ousou: experimentou por conta própria o remédio tarja preta e descreveu o resultado, prós e contras. Huxley, contudo foi acusado de indicá-las nessa mesma matéria, por ter descrito que a droga que experimentou possuía vários prós interessantes. E, contudo, em 59 ele joga os contras numa interminável lista de formas de dominação pacífica que um ditador do futuro possa exercer, deixando claro – pelo menos para mim – que ele não indicaria, jamais, as tais substâncias para expandir os limites da mente.

Para muitos, o simples fato de relatar imparcialmente, ou seja, sem filiar-se a jargões e concepções de ideologias dos academistas – mas ainda assim, pessoalmente – suas impressões é o suficiente para sugerir, indicar, e recomendar o uso disso ou daquilo.

Eu, contudo, prefiro ver que no romance de antecipação de Aldous Huxley, os dois ensaios de 54 e 56, e por fim a coletânea de 59, um todo que aborda mil e um assuntos! Mas que no tocante às drogas, é sóbrio e atual: não tem a necessidade de negá-las por serem simplesmente erradas. Mas tem profundidade de argumentos e explicações, e na experiência própria: não nega que as coisas possuem um lado bom, mas lembrando que atentai para as formas de dominação que usam tudo o que possa possuir um lado bom, ou que tenha sido feito desde o início sob horríveis intenções.

Como eu já imaginava, a reportagem acabou sem muitas respostas. Talvez seja esse um efeito do atual extremo em que tudo tem de ser relativizado. Mas o tema talvez exigisse isso: considerar o café e similares como droga perto de remédios poderosos por possuírem um mesmo fim é algo delicado. Nesse sentido, para não cair nas generalizações e questões sem respostas, é preciso saber diferenciar um relato pessoal de uma indicação, uma literatura de antecipação de um manual para ditador, um Maquiavel monarquista de um Maquiavel republicano. Sejamos imparciais enquanto mais pessoais o formos, seremos nós mesmos: e não aprendizes de vãs doutrinas!

3 Comentários:

Francisco disse...

É verdade. Entre relato pessoal, e indicação, existe uma diferença.
O problema é que poucas pessoas percebem.
Um abraço.

Rodrigo Andolfato disse...

Este texto me abriu a mente de que às vezes você quer ser imparcial, mas alguém pode se aproveitar disse e tirar de sua opinião só o que é interessante para ele e fazer com que ela parece uma coisa muito diferente.

Abraços

M disse...

Pô, ótimo post Delemon! Parabens!

:)) ;)) ;;) :D ;) :p :(( :) :( :X =(( :-o :-/ :-* :| 8-} :)] ~x( :-t b-( :-L x( =))

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