Por: Diego? Glommer?
O jovem de nossos dias tem acesso a um sem número de informações, que por sua vez chegam a ele numa velocidade também incrível. Isso com toda certeza é algo interessante, pois o torna mais dinâmico e apto para o próprio ritmo de vida acelerado que a maioria terá na vida adulta.
No entanto, creio que há dois problemas no que se refere a essa quantidade exorbitante de informações e a maneira com que elas chegam. O primeiro tipo se refere a certos casos em que as informações são articuladas sob formatos muito vazios de conteúdo reflexivo ou, no caso das do segundo tipo, quando são excessivamente tendenciosas e que, descaradamente, tentam influenciar aqueles que as recebem sob suas perspectivas ideológicas e políticas.
O primeiro caso é bem característico nas informações dadas em formatos resumidos e que geralmente são apreciadas por aqueles que acham que elas realmente os tornam mais “antenados” com a realidade. Mas de que vale uma série de informações armazenadas, quando não se é capaz de articulá-las e formar uma visão crítica própria do mundo?
Nosso cérebro não é um depósito onde são jogadas peças que nunca serão usadas. Ao contrário, é um lugar que se por um lado requer uma constante construção de uma bagagem de conhecimentos, também é onde se faz com que estes se interconectem e produzam a ação que o homem se diz mais orgulhoso: o pensar.
E pensar acima de tudo é um ato reflexivo. Logicamente, a vida humana e o modo com que esta se articula nas sociedades requerem bastante ação prática, mas também exigem esse constante exercício reflexivo para que se estabeleçam melhorias sociais e políticas.
Por isso, acredito que a informação deveria se dar além de um monólogo daqueles que a “produzem” para ser uma atividade de diálogo entre “quem a faz” e o seu receptor. Nesse ponto que talvez possa dar início a crítica ao segundo modelo comum de informação: esta que se dá com o intuito de influenciar e de padronizar formas de pensar.
Lembro-me imediatamente de uma série de reportagens da revista Veja que se lançavam a criticar professores de ensino médio e fundamental, em especial os da área de Humanidades. Eram recorrentes os seguintes argumentos: 1) que os docentes estavam fazendo uma lavagem cerebral nas crianças e adolescente e lhes introduzindo ideologias desconexas com a realidade e; 2) que esses profissionais não deveriam ajudar a formar a cidadania, a consciência e o senso crítico de seus alunos, mas simplesmente prepará-los para os vestibulares e para o mercado profissional.
Considero o primeiro item já bastante questionável, uma vez que as pessoas são muito mais permeáveis ao pensamento formado no seio das instituições capitalistas do que influenciável por Marx, Bakunin, Lênin, Trotski, Guevara ou outro qualquer. Por mais que sejam formas de pensar antagônicas com nossa realidade geralmente só proporcionam ao jovem uma leitura diferenciada da história e da própria vida. E para aqueles que manifestarem mais interesse, a formação de um espírito questionador e de uma preocupação maior com as questões sociais, o que é extremamente benéfico num mundo tão cheio de desigualdades.
No que se refere ao segundo argumento creio que é algo muito interessante para aqueles que detêm os instrumentos de produção de conhecimento em massa, uma vez que estão alinhados com as elites e tanto mais estivermos atentos ao fato de que para estas é interessante propagar um sentimento de impotência e conformismo na sociedade. E é nesse espaço que se dá a proliferação das informações assépticas e daquelas que querem consolidar maneiras hegemônicas de pensamento.
É nesse campo que o jornalismo da Globo constrói para si uma imagem de legitimador daquilo que é verdade. E que a Veja se estabelece da mesma forma como revista. Por isso as pessoas não costumam discutir aquilo que passou no Jornal Nacional e raramente ousam questionar as palavras do William Bonner. E é por isso que até hoje alguns professores mais adeptos do tradicionalismo educacional usam a Veja em suas aulas como uma espécie de autoridade que descreve os eventos atuais.
O grande problema incorre no fato que esses veículos de comunicação que alternam entre a assepsia e a “influenciação”, os fazem de acordo com o que lhes é conveniente. E daí se abre o questionamento para o seu compromisso com a sociedade. Deveriam abordar o que se refere ao maior raio de segmentos possível ou estarem comprometidos com apenas com os grupos sociais mais proeminentes? Deveriam levantar questões da forma mais isenta possível ou se lançarem apenas sobre aquilo que não lhes convém?
Particularmente creio que a imprensa tem um papel social e sendo assim nela deveria se encontrar uma aliada para a discussão dos grandes problemas enfrentados por aqueles que não fazem parte das classes mais ricas. E aí que surge a necessidade de que jornais, revistas e outros meios de comunicação se façam com linguagens mais acessíveis, que sejam capazes de se aproximarem àquilo que é verificado como experiência social no cotidiano das pessoas. Porém isso deveria se dar ao mesmo tempo dentro de formatos que fomentem naquele que recebe as informações a acepção crítica e as capacidades de enxergar as contradições e de formular suas próprias opiniões.
Mas o que ocorre que do jeito que está parece ser mais cômodo para todos... Participar do senso comum é bem tranquilo do que nadar contra a forte maré. E ficar no conforto do alheamento é bem mais atraente do que se colocar no campo de batalha.
Aliás, o ser humano parece ter o hábito de só tentar resolver os problemas quando suas soluções já são quase impossíveis. Pois, como bem dizem, se prevenir é melhor que remediar, é mais fácil não assumir a responsabilidade de prevenir agora e deixar para se preocupar em remediar depois, caso se torne muito necessário. E mais satisfatório se isso se tornar problemas de outros que virão no futuro. Resumindo: é a velha política do “tirar o meu reto da reta”.
4 Comentários:
a gente realmente recebe bombardeios de informação ao tempo todo, e neste meio de informações repare que geralmente a negatividade que mais impressiona a mente da gente.
É realmente complicada a situação que vivemos hoje, com uma oferta cada vez maior de informações vemos cada vez mais pessoas sem a mínima cultura ou consciência. A Televisão desorienta o cérebro das pessoas e revistas como a Veja tentam se aproveitar disso. noventa por cento das pessoas que conheço consideram o que lêem na Veja como sendo uma verdade sacra. A internet acaba refletindo isso, basta entrar nos principais portais e ver quais são as matérias de maior destaque nesses portais, pois são as que as pessoas mais procurarm.
Por sinal, concordo com você, as pessoas também tem muita culpa nisso, adotam a postura mais fácil, a posição mais cômoda. Até que um dia tem um filho morto por uma bala perdida e vão gritar sozinhas na frente de um tribunal! Muito triste.
Rodrigo Andolfato
Sem exageros, mas os teus posts aqui no Lado B, têm sido geniais.
Este...superou!
Concordo que ninguém questiona ou duvida das informações dadas pela Veja ou pelo Jornal Nacional. Tem quem acredite inclusive no BBB!
O que falta aos jovens, é leitura. Muita leitura. E bem diversificada.
Abraços.
tudo que você falou aqui está certo, assino em baixo o que você falou mas o maior problema é que a nossa sociedade desde de muito tempo atrás, nós nunca fizemos uma reivindicação a sério nesse país, por isso estamos onde estamos, infelizmente.
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